A violência contra Marina Silva e todas as mulheres 3i266h
Considero inaceitável a violência sofrida pela ministra, praticada por indivíduos que mancharam sua investidura no cargo de senadores e se mostraram misóginos

Ministra Marina Silva, senador Marcos Rogério e o secretário-executivo do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), João Paulo Capobianco (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
Considero inaceitável a violência sofrida pela Ministra Marina Silva, praticada por indivíduos que mancharam sua investidura no cargo de senadores e se mostraram misóginos, grosseiros e desrespeitosos com uma mulher que, tendo sido convocada, compareceu ao parlamento para prestar esclarecimentos em razão do exercício das suas funções no governo.
Infelizmente, o lamentável tratamento infligido à Ministra Marina repete a fórmula aplicada contra a Presidenta Dilma Rousseff, a Ministra Gleisi Hoffmann, a mulher do presidente Lula, a Senhora Janja da Silva etc. Enfim, é o mesmo menosprezo com que tratam diariamente milhares de mulheres no país.
Esse grotesco episódio deixou patente que temos diante de nós uma classe dominante atrasada, de ascendência escravagista, que enxerga a mulher como mero objeto de exploração em todos os sentidos, sem direito ou liberdade de se expressar.
E foi em decorrência dessa visão míope e deturpada que ouvimos um daqueles senadores dizer para a ministra, dentro das instalações do Senado Federal, em desrespeito à Constituição (que não apenas proíbe a discriminação como garante a igualdade entre mulheres e homens): “ponha-se no seu lugar”.
Como manifestou uma companheira da luta progressista, “na expressão ‘ponha-se no seu lugar’ cabe um mundo de interpretações. Na verdade, o lugar de uma mulher com a aparência da Ministra (e da maioria das mulheres brasileiras), na mentalidade deles, é servindo o cafezinho, limpando a sujeira deles, cuidando dos rebentos deles e, até mesmo, na cama para o alívio deles... Mas, nunca em pé de igualdade com eles!”
Em geral, a posição das mulheres e de seus filhos menores, na sociedade, é de total vulnerabilidade, diante de um mundo dominado pelo patriarcalismo, que os considera, indevidamente, como subgrupos sociais, colocados em uma condição de inferioridade construída estruturalmente e mantida pela exploração permanente.
No Brasil, a literatura realista de Jorge Amado revela como mulheres e crianças são abusadas sexualmente e depois jogadas pela necessidade de sobrevivência em prostíbulos e cabarés, vistos e frequentados por homens ricos e de classe média, e isto ainda acontece nas cidades brasileiras, em pleno século XXI.
Como ápice do simbolismo desse Brasil atrasado e cruel, em 2018, no bairro de Moema, cidade de São Paulo, na entrada de um desses lugares de exploração sexual, tiveram a ousadia de fixar a foto da então presidente do Supremo Tribunal Federal para comemorar a prisão do Presidente Lula.
Como exemplo dessa sociedade, que joga mulheres e menores na exploração para a mera satisfação de homens de qualquer classe social ou idade, Jorge Amado, no romance “Cacau”, relata o caso do indivíduo que manifestou o desejo de tomar para si uma menina de nove anos de idade: “Calcule vosmicês que um sujeito de uns sessenta anos queria casá com uma menina de nove anos.” Aliás, outra manifestação desses abusos são os casamentos impostos a meninas menores de idade com homens adultos, coisa absurdamente corriqueira nos dias atuais.
A naturalização dessas situações é demonstrada pela principal personagem de “Gabriela, cravo e canela”, que, tendo sido abusada sexualmente por seu tio na infância, considerava normal ser explorada pelos homens, da mesma forma que achava que “seu” Nacib deveria se casar não com ela, mulher perdida, mas com moça boa, virgem e de família.
Sabemos que mesmo mulheres abastadas e ricas são exploradas e abusadas moral e sexualmente; em geral, acreditam não ter capacidade de insurgência contra seus companheiros, muitas vezes por medo de ameaças de morte, da perda da guarda dos filhos ou de direitos patrimoniais, como ocorre com a personagem dona Ester, mulher do coronel Horácio da Silveira, em “Terras do Sem Fim”, de Jorge Amado.
Ocorre-nos também a lembrança do romance de Chico Teixeira, “Corpo, Cabeça”, obra que retrata costumes e hábitos da vida urbana no século XXI, onde o personagem Sebastião (o travesti Cherlaine) conta como, ainda menino, foi abusado pelo padrasto, com a omissão da própria mãe; marcado pela violência e apontado nas ruas (no costumeiro processo de responsabilização da vítima), sentiu-se compelido a deixar sua terra no Nordeste e vir para o Rio de Janeiro, onde a a ganhar a vida na prostituição.
Ou seja, a literatura retrata uma realidade dura e facilmente observável por nós todos os dias, em qualquer lugar do Brasil, de mulheres e menores que, pelas circunstâncias da vida, não têm a capacidade de lutar nem o poder de denunciar os abusos praticados contra si.
Por isso que aqueles senadores foram abusados e desrespeitosos com Marina Silva, mulher que foi Senadora da República e que atualmente é Deputada Federal eleita por São Paulo e Ministra do Governo do Presidente Lula; mesmo assim, acharam-se no direito de fazer o que fizeram, aos olhos de todos, sem nenhum pudor, e, ao fazê-lo, agrediram a todas as mulheres do país.
Então, o mínimo que o presidente do Senado Federal (que é presidente do Congresso Nacional) deveria fazer é uma sessão especial de desagravo à Ministra Marina Silva, além de um pedido formal de desculpas a ela pelos atos misóginos praticados por senadores dentro das dependências do Parlamento, que é o local em que se deveria respeitar a Constituição, as leis e o povo brasileiro, que teve a maioria dos seus integrantes (as mulheres) desrespeitadas pela ação descabida de parlamentares homens que repetem os erros seculares do patriarcado brasileiro.
Jorge Folena 5qx4m
Advogado, jurista e doutor em ciência política.
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Senador Omar Aziz (PSD/AM) desceu o sarrafo agressivamente nela e ninguém falou que ele a atacou. Dois pesos e duas medidas de medidas de jornalista esquerdeopatas
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aff...
Tanto roubo do dinheiro público gente morrendo de fome e em hospitais por falta de atendimento e vcs perdendo tempo com picuinha de políticos safados tanso da esquerda quanto da direita. É o fim
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